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Cidadãos da Suíça votam e rejeitam receber R$ 9.000/mês sem trabalhar. O que está por trás disso?

  • Gustavo Quariguazi
  • 10 de jun. de 2016
  • 4 min de leitura

É inegável que qualquer pessoa gostaria de ter seu tempo livre para poder utilizá-lo da forma que quisesse. Afinal, o mundo é gigante e está cheio de coisas novas a serem descobertos e lugares novos a serem visitados. Não é verdade?


Muito além da discussão assistencialista que foi veiculada na mídia como se a população estivesse apenas escolhendo ficar em casa "sem trabalhar", a maior reflexão que devemos tirar desse episodio é o que está por trás disso tudo. O fato que a automação mais e mais vem tirando emprego e oportunidade das pessoas de desempenharem seus trabalhos. As indústrias, fábricas e agricultura estão saturadas de robôs e cada vez mais as pessoas precisam encontrar profissões novas para se adaptarem ao mundo moderno e digital. Muitas profissões já desapareceram e outras tendem a desaparecer ou ter responsabilidades reduzidas devido à automação em muito pouco tempo.


O mundo tem uma capacidade de produção anual de 3 vezes o que é consumido e isso só é possível devido à mecanização e automação. Em teoria, já temos mão de obra suficiente para suprir todas as nossas necessidades de consumo. Isso deverá trazer à tona a discussão de como acomodar o exército de mão de obra que sai das instituições de ensino do mundo anualmente. Ou estas pessoas entendem e se adaptam às mudanças que ocorrem ou em breve elas perderão seus empregos sem chance de recolocação no mercado de trabalho.


Isso significa que a automação é algo negativo?


De forma nenhuma. A automação permite que trabalhos considerados perigosos sejam executados com uma taxa zero de acidentes. Permite que tarefas repetitivas sejam executadas sem nenhum desgaste psicológico que antes eram causados aos humanos que desempenhavam a mesma função. O número de erros e desperdício diminuem, etc.


Cada vez mais as capacidades geradas pela inteligência artificial são ampliadas e as tomadas de decisão podem ser facilmente instruídas aos computadores por meio de algorítimos lógicos que tornam esses equipamentos mais eficientes do que qualquer ser humano que já tenha andado pela Terra.


O cenário para onde se encaminha o futuro da humanidade é obscuro. A revolução tecnológica acontece a olhos vistos. O problema é que não há uma discussão séria entre os países sobre como a organização social deve se desenhar para essa nova situação de "desemprego" gerado pelas novas tecnologias.


O que aconteceu na Suécia?


A Suécia decidiu levar à votação popular uma iniciativa chamada de "Renda básica incondicional" onde todo cidadão adulto, morando no país por mais de 5 anos, receberia uma ajuda de 2500 francos (R$ 9.000) e crianças, 650 francos. Dessa forma as pessoas não precisariam mais trabalhar. Mas será que isso é verdade?


Como funciona atualmente?


O que existe hoje na Suécia é uma espécie de seguro desemprego que ajuda uma pessoa por 1 ano caso ela tenha perdido o emprego que é operado por um órgão específico, o RAV (Regionale Arbeitsvermittlungszentrum), se tiver um tempo mínimo de serviço no emprego anterior (normalmente um ano, um ano e meio, depende da lei do cantão).


Dependendo também da lei do cantão, a pessoa recebe uma porcentagem em média de 80% do salário que recebia no último emprego, e a partir do momento que ela está registrada no RAV, ela participa de reuniões no órgão, que tentará traçar seu perfil e encontrar um novo emprego para ela. Dependendo ainda de alguns outros fatores, dependendo da lei do cantão ou do próprio RAV, há um tempo limite que a pessoa pode ficar desempregada "as custas do RAV", em média 2 anos. Depois de 2 anos, se a pessoa não conseguir encontrar um emprego no perfil, ela deve sair da dependência do seguro desemprego do RAV, e passa a ser "problema" do governo.


Além disso, na Suíça há vários caminhos para possibilitar uma vida digna, caso a pessoa não consiga se sustentar por meios próprios. Depois do seguro desemprego, o governo passa a tomar conhecimento do seu caso e dependendo da severidade da situação, o governo assume algumas contas básicas, como seguro saúde, subsídio de apartamento, creche da criança, etc. e daí a pessoa pode ser qualificada e pode passar a depender da ajuda financeira do Departamento Social. Que vão continuar tentando encontrar um trabalho pra a pessoa, mas até lá, vai assumir algumas de suas contas. Nada de luxo, apenas o básico.

A votação ocorreu no dia 05 de Junho de 2016 e foi rejeitada por 77% da população. Existem vários fatores para isso e a maioria dos argumentos só podem ser analisados e pensados com seriedade em países que atingiram o nível de evolução social como a Suécia. No Brasil, por exemplo, seria impensável um resultado como este. Com certeza, os 77% seriam a favor do subsídio para ficar em casa "sem trabalhar". Embora na conversão o valor de R$ 9.000 seja bem expressivo, na Suécia, ele representa apenas 50% do valor médio de um aluguel, ou 1/4 do valor de um plano de saúde (que na Suécia não é gratuito).


De onde viria o dinheiro?


Com uma renda per capita estimada em US$ 59 mil ao ano (R$ 211 mil) e taxa de desemprego inferior a 4%, o país não carece de políticas públicas de combate à pobreza. Isso, dizem defensores do projeto, permitiria ao país "dar-se ao luxo" de experimentar uma utopia.


Apesar da abundância econômica do país, o projeto não sairia barato aos cofres públicos. A estimativa oficial é de um custo de 208 bilhões de francos (R$ 750 bilhões), para atender 6,5 milhões de adultos e 1,5 milhão de crianças.


Desse valor, cerca de 55 bilhões viriam de cortes em outros projetos sociais. Outros 128 bilhões seriam financiados pelos assalariados: todos teriam 2500 francos abatidos de seu salário mensal, e aqueles que ganhassem menos que isso dariam todo seu salário ao governo e receberiam o subsídio em troca.


Os 25 bilhões de francos que faltariam para cobrir o rombo poderiam ser obtidos por meio de um aumento no imposto de valor agregado (IVA), que atualmente é de 8% e passaria a 16%. Ou seja, vai sobrar para a população, de qualquer forma.

Conclusão


Discussões como esta devem ser fomentadas em nível mundial. O mundo precisa saber como agir em um futuro onde as pessoas precisarão coexistir com as máquinas e ter seu consumo e seus serviços básicos garantidos. A revolução tecnológica é uma realidade e os efeitos já são percebidos diariamente.


Fontes:


http://www.elaeamericana.net/2016/06/proposta-de-salario-incondicional.html


http://exame.abril.com.br/economia/noticias/suica-pode-tornar-realidade-sonho-de-receber-sem-trabalhar


http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/06/suica-decide-se-todos-os-seus-cidadaos-receberao-r-9-mil-por-mes-sem-fazer-nada.html


https://www.noticiasaominuto.com.br/mundo/233832/na-suica-pessoas-poderao-receber-salario-sem-trabalhar


https://br.noticias.yahoo.com/su%C3%AD%C3%A7a-pode-tornar-realidade-sonho-receber-trabalhar-121959006--sector.html

 
 
 

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