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Qual é o seu último desejo?

  • Gustavo Quariguazi.
  • 7 de jan. de 2016
  • 5 min de leitura

Imagina que você tenha sido acometido por uma grave doença que não lhe permitisse sair de um hospital? Imagina sua vida passando como um filme em sua cabeça e o único horizonte possível, esperar pela morte? Qual seria o seu último desejo?

Kees Veldboer, motorista de ambulância teve uma experiência que mudaria sua vida e consequentemente, a vida de milhares de pessoas. Ele é o fundador da ONG Stichting Ambulance Wens (ou "Fundação Ambulância dos Desejos", em tradução livre). Juntamente com sua esposa Ineke que é enfermeira, criaram a ONG que hoje conta com 230 voluntários, 6 ambulâncias, uma casa de campo e mais de 7.000 desejos realizados.

A única exigência é que os pacientes estejam em estados terminais e que não possam ser transportados de outra forma, a não ser de maca. A paciente mais nova tinha 10 meses, e o desejo dos pais era poderem se sentar todos juntos no sofá e casa uma única vez e a paciente mais idosa tinha 101 anos e gostaria de andar a cavalo uma última vez.

Outras ONG também oferecem esse serviço de levar os pacientes para fora de hospitais, mas a Stichting Ambulance Wens foi a primeira a utilizar uma ambulância com apoio médico total. Sempre há uma enfermeira a bordo e os motoristas são especializados, geralmente já trabalharam na polícia ou bombeiros. Já as ambulâncias foram adaptadas e possuem janelas, para que os pacientes possam apreciar a vista. Cada um deles recebe um urso de pelúcia chamado Mario, batizado em homenagem a Stefanutto

Tudo começou em Novembro de 2006, enquanto Kees estava encarregado de transportar um paciente de um hospital a outro, ele foi informado que o hospital que receberia o paciente estava atrasado e Kees precisaria aguardar 3 horas além do programado. Então Kees, perguntou ao seu paciente, Mario Stefanutto, marinheiro aposentado, se ele gostaria de ir a algum lugar enquanto aguardava.

Mario perguntou se ele poderia ser levado ao canal Vlaardingen, pois ele gostaria de dizer adeus à baía de Roterdã e ver a agua pela última vez. Neste dia, Kees e Mario ficaram nas docas por quase uma hora.

"Lágrimas de alegria escorreram pelo rosto dele. Quando perguntei se ele gostaria de navegar de novo, ele disse que seria impossível, pois estava em uma maca", lembra Veldboer

Kees não desistiu e solicitou a ajuda de uma amiga e uma ambulância ao chefe no dia de folga. Entrou em contato com uma empresa de táxi marítimo. Na Sexta Feira seguinte, o passeio se realizou para surpresa e alegria de Mario Stefanutto.

Antes de morrer, Stefanutto escreveu em carta : "Me faz bem saber que ainda há pessoas que se importam com as outras... posso dizer a partir da minha experiência que um pequeno gesto de alguém pode ter um grande impacto".

Roel Foppen, ex-soldado que trabalha como motorista e já atendeu mais de 300 desejos lembrou um episódio onde uma mãe (Nadja) que morava na Holanda há 12 anos, gostaria de morrer juntos dos filhos de 3 e 7 anos que haviam voltado para sua terra natal na Romênia a 4,5 mil Km de distância. Foppen disse que ela estava tão doente que nem era possível tocá-la.

A família enviou um cartão depois a Foppen, dizendo que Nadja havia morrido duas semanas depois do episódio.

Outro caso que ficou famoso na mídia, foi o caso de um homem chamado Donald. O qual visitou regularmente o museu Rijksmuseum em Amsterdã com seu companheiro por mais de 30 anos.

A última obra em exposição no museu era uma obra chamada "Simeão com o menino Jesus no Templo". Uma pintura inacabada de Rembrandt.

"Agora eu percebo que uma vida nunca está finalizada. Minha vida não está acabada e este quadro está inacabado", disse Donald a eles, muito emocionado.

"Vi o que queria ver, podemos ir agora", acrescentou.

"Toda vez é especial. Você discute com seus colegas no caminho para casa e é sempre muito especial, não importa quão pequeno (é o desejo)".

"Atendi uma senhora que só queria um copo de advocaat (um licor de ovo) em casa. O filho dela trouxe a garrafa, fomos até a casa dela, ela experimentou e nós voltamos. Este era o desejo dela."

"As pessoas perguntam se ficamos esgotados, se não é comovente demais sempre lidar com os últimos desejos. Sim, é, mas frequentemente as pessoas estão prontas para morrer, pois elas já foram tão longe. E é sempre bom dar a elas algo que realmente querem".

Em 2014, um dos desejos realizados pela ONG virou manchete no mundo todo.

Frans Lepelaar é um ex-policial que investigava fraudes e agora é motorista de uma das ambulâncias da organização. Ele e o colega, Olaf Exoo levaram Mario, um homem de 54 anos com dificuldades de aprendizado ao zoológico Diergaarde Blijdorp, em Roterdã, onde ele havia trabalhado durante 25 anos cuidando da manutenção.No final do turno, Mario costumava visitar os animais.

Lepelaar e Exoo decidiram, então, levar Mario para uma última visita.Quando eles chegaram ao local onde ficavam as girafas, foram convidados a entrar. De repente, uma girafa se aproximou de Mario e deu uma lambida em seu rosto. Ele estava doente demais para falar, mas "podia ver sua alegria", diz Exoo, que registrou a foto do "beijo da girafa". A imagem rodou o mundo.

Para Exoo, os pequenos desejos são os melhores.

"Aquelas coisas que para nós são normais, mas que ficaram impossíveis para estas pessoas", explica.

Veldboer afirma que alguns médicos proibiam as ações da ONG mas, à medida que o trabalho se tornou mais conhecido, os vetos foram diminuindo. Agora, é mais comum o hospital ou o asilo fazer o pedido em nome do paciente.

"Havia uma senhora que queria ir ao casamento do neto. O asilo disse que não, mas ela estava desesperada então, no fim, eles nos ligaram. Nós a levamos e ela adorou. No caminho de volta ela disse 'vocês nem sabem como isto foi importante para mim", disse.

A senhora morreu naquela mesma noite.Levando em conta a gravidade do estado de saúde dos pacientes, é talvez surpreendente que, entre os cerca de 7 mil já atendidos pela ONG, apenas seis morreram durante a realização do desejo.

Nesses casos, o papel dos que estão na ambulância é dar apoio à família e tomar as medidas necessárias em relação ao corpo. Segundo Veldboer, em todos os seis casos as famílias ficaram agradecidas pelo suporte da entidade.Depois do enorme sucesso da organização na Holanda,

Veldboer ajudou a estabelecer organizações parecidas em Israel ─ depois de levar uma mulher judia a Jerusalém, onde ela queria morrer ─ então na Bélgica, Alemanha e Suécia

Fontes:

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150923_ong_pacientes_terminais_fn

http://www.ambulancewens.nl/

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